Seguidores

sábado, 2 de março de 2013

Identidade





    Vamos lá: Omega, Monza, Corsa, S-10, Blazer, Escort, Ka, Tempra, Tipo, Marea, Gol bolinha, Golf, Logus, Clio, Scénic, 206, Xsara...UFA! Você pode nem ser muito fã de automóveis, mas com certeza muitos desses nomes são familiares ao seu ouvido, além de muitos outros que não foram citados e que ocupariam algumas linhas desse texto. Tais carros têm uma coisa em comum, marcaram época. Alguns deles já deixaram de ser produzidos há alguns anos, outros ainda são fabricados, mas perderam totalmente sua originalidade, sua "cara", sendo hoje carros quaisquer.
    No início da década de 1990, o Brasil passou por um momento histórico, a abertura do mercado para produtos importados, e após décadas de veículos antiquados, mais notoriamente na década de 80 (quando os carros do mercado europeu, asiático e estadunidense já eram avançados tecnologicamente, e os nossos não passavam de adaptações das mesmas versões vendidas aqui desde os anos 70), finalmente chegaram aqui carros como os citados acima, vieram para substituir nossas exaustas "carroças", e dar um "upgrade" no mercado automotivo nacional.
    Talvez pela mudança repentina que ocorreu, esses novos carros acabaram ficando marcados na memória das pessoas que viveram aqueles anos, e até mesmo das mais novas que não viveram, mas que muito ouviram falar desses veículos. 
    Apesar da breve explicação, o objetivo desse texto não é falar das mudanças ocorridas no mercado automotivo brasileiro após a abertura dos portos, quero tratar aqui sobre a identidade que acabou se perdendo em muitos carros após o início do século XXI.
    Como disse no primeiro parágrafo, os carros que marcaram época nos anos 90 o fizeram devido a sua grande personalidade e originalidade, era nítida a diferença entre os modelos de diferentes marcas, assim como era nítida sua categoria, suas linhas, interior, rodas e motores, tudo isso dava uma cara única a muitos carros produzidos no período. 
    Não era preciso que os  carros tivessem uma tela de "touchscreen" no painel para que possuíssem tecnologia, assim como não era necessário que fossem tão clássicos como os carros dos anos 50 para que tivessem estilo. A década de 90, tanto no Brasil como em outros países com tradição automotiva foi ,a meu ver, a década áurea dos automóveis, pois havia um misto de tecnologia e segurança (em alguns modelos obviamente), com personalidade e originalidade. Se olharmos os carros que citei, veremos em alguns deles, versões com mais tecnologia e detalhes que muitos dos carros fabricados hoje em versões não populares, e alguns deles já têm mais de 20 anos.
    Você pode não concordar comigo, mas eu gostaria de saber quais carros fabricados recentemente são comparáveis a um Kadett GSI conversível, a um Escort XR3, à uma Omega Suprema ou a um Citroën XM. Não vejo nenhum, vejo hoje carros como o Ford Ka, que possuía uma identidade, e hoje é mais um em meio a carros totalmente sem graça, vejo um Vectra deixar de ser produzido sem  ninguém se dar conta, de tão insossa que era sua última versão, incomparável com o sucesso do seu antecessor modelo B, também vejo a VW, Hyundai, GM e a Toyota lançarem modelos populares sem nenhuma originalidade, semelhantes entre si de tal forma que somente quem entende um pouco de carro consegue diferencia-los a distância. 
    Posso estar sendo meio saudosista, mas de fato o mercado automobilístico brasileiro e mundial está carente de carros com identidade, não de computadores sobre rodas com linhas idênticas e interiores cheios de LED's. Seria interessante que os projetistas atuais fizessem como os projetistas dos carros da década de 90, que conseguiram algo que hoje poucos conseguem, que é mesclar nos carros a tecnologia existente com beleza e elegância no design, fazendo assim carros que não serão esquecidos e que terão muito mais receptividade no mercado. 
    Gosto de muitos carros fabricados recentemente, alguns são muito bonitos e seguros, mas sempre que os vejo fica aquela sensação de que falta algo no carro, sensação essa que muito provavelmente não sentiu quem viu um Pointer ou um Tipo quando foram lançados. Uma boa forma de compará-los é ver quais carros fabricados entre 1990 e 1999 ainda são e serão lembrados por muitos anos, e ver quais carros fabricados hoje serão lembrados daqui a 15 ou 20 anos. Na minha visão, pouquíssimos. 
    Não sei como serão os carros do futuro, espero que não sejam como nos "Jetsons" nem como em filmes como "Blade Runner" ou "Eu Robô", mas imagino que dificilmente marcarão época como os carros fabricados até os anos 90. Algumas marcas ainda me trazem esperança, como as alemãs Mercedes, BMW e Audi, além das francesas, que possuem muita tecnologia, mas sem perder a classe e a identidade, exemplo é o modelo DS da Citroën, espetacular tanto nos anos 60 como em 2013. É necessário que se mescle tecnologia com uma "cara", um carro para ser moderno não precisa ser um Prius, basta que a tecnologia respeite suas linhas.